segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Sobre mais um dia na Rua

Sem linha fina. Sem linha fina dessa vez.

Milhões de pessoas devem, agora, estar escrevendo. No gerundio, para que não fique velho: quantas pessoas não devem estar dizendo sobre o futuro da crise ecônomica, sobre como se aproveitar dela, ou então sobre como a esquerda e a direita devem agir.

Agora as pessoas também devem escrever sobre novas fórmulas matemáticas que devem resultar em progresso para a civilização, sobre como transgredir os projetos de Niemeyer e sobre novos computadores que transcendem a velocidade de qualquer pensamento. Nas páginas de qualquer lugar falam sobre o problema global do meio ambiente, sobre o futuro da empresa, do mundo, do dia-a-dia do cotiadiano da vida e sobre a própria vida em blogs pessoais.

O Velho tava escrevendo. Continuou até certo momento:

Tá todo mundo estranho e eu nem sei onde chegar
Cansei, cansei. Cansei também.


Se tá todo mundo errado té parece que alguém tá bem.
Teve outro dia que eu tava em outro lugar
Depois eu fico triste, agor...


O Velho, que nunca teve nada a perder, perdeu. Exceto a infância, nunca perdeu nada. Quando começou a escrever achou que tinha muita gente escrevendo e que ninguém, no final, lê nada. O Velho parou.

Perdeu pois o Preto que dormiu na frente de um açougue. Intransigente, o Preto queria muito a carne do frigorífico. Não negociou. Morreu.

O Velho desistiu de escrever e preferiu continuar só com o sentimento.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Algumas observações aos comentários dos Amigos do Velho

Eu, Júlio Gardesani, e não o próprio Cangalho, venho responder os três valiosos comentários sobre a “Singela apresentação do Cangalho”.

Carolzinha, meu amor. O Velho não planta em ninguém. Imagina, um Cangalho como ele! O que acontece é que a Pepê Bombom é um bombonzinho que ninguém quer desembrulhar. Às vezes, fica tanto tempo sem um cliente a puta, que sente a necessidade humana de ter um homem. Esse homem, o único que a desembrulha, é o Velho.

Sartorato, meu amigo. Os olhos vermelhos se devem ao cansaço, à poluição, às noites mal dormidas. Teve tempo do Cangalho pensar em rastafari, no entanto, abandonou Jah, mas seguiu consumindo a hóstia da religião jamaicana.

V.D.S. (Vanessa), a imparcial e também amiga. Pois já fui poeta. Ruim é verdade. Quem não gosta do azul é o Velho Cangalho e não eu. Este Blog é imparcial, assim como eu. O texto do escritor comunista português José Saramago será balanceado com boas argumentações de Delfin Neto e antigos textos de Mussolini.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A singela apresentação do Velho Cangalho, sua barba canarinho e alguns amigos

Como ainda não sei o que é ou o que significa este blog, publico aqui um devâneio que rendeu o título da página: Velho Cangalho, sua barba canarinho, seu cãozinho Preto e a Pepê Bombom. A história do Velho Cangalho, cansado de guerra, deve continuar - já gosto deste cidadão - se a campanha eleitoral de 2008 um dia acabar.

Em qualquer canto se sentia brasileiro. As cores da banderia do Brasil – o verde, o branco e o amarelo - o Velho Cangalho carregava em sua espichada e suja barba. O branco pela idade, o amarelo pelos agora escassos cigarros, obrigatoriamente reduzidos por falta de dinheiro, e o verde de sujeira – às vezes parece alface, às vezes catarro, mas um menino do bazar diz que “vira e mexe” Cangalho sai carregado da lojinha com papeis do tipo crepon.

Conhecido nas ruas de paralelepípedo das pensões e asilos e de uma das tantas mulheres-dama do lugar, a Pepê Bombom, bombom que ninguém gostava de desembrulhar, todos estranharam ver o Velho Cangalho e sua barba canarinho naquele lugar.

Homem que já pediu comida, recebeu panfleto e aperto de mão de alinhado candidato, que trabalha, transpira, carrega a barba e a carrinhola com o cachorro Preto, e que também já foi chamado de vagabundo sem sequer ter onde deitar para pôr os pés para cima em dia de labuta que lhe rendia orgulho. Gostava de quase tudo, só não gostava do azul - Céu é azul e eu aqui?

Lá, onde estranharam ver o Cangalho, carregado com o seu cansaço, ele foi encontrar um amigo barbudo. Percorreu com as vistas vermelhas todo o lugar e entrou. Reconheceu o barbudo de olhos azuis – gostava apenas deste azul - que lhe era amigo desde que nasceu. Não pediu licença. Duas senhoras cheirando a Dama-da-Noite, beatas que mais lembravam Pepê Bombom, a Mulher-Dama, cumprimentaram Cangalho: disseram-lhe um oi seco as mulheres-planta.

- ...

Como se precisasse pedir permissão. Com as reticências, o Velho não pediu licença, disse cheguei. Olhou pros lados, pros cantos, pra cima. Passou por cada canto. Coçou a barba e acenou para seu amigo também barbudo. Voltou pra rua, olhou para o céu, pensou no azul e afanou o Preto.